quarta-feira, 19 de setembro de 2007

[Comportamento] Pirataria e a Polêmica sobre o filme Tropa de Elite

Já fazia um tempo que eu pretendia colocar um post sobre o assunto pirataria, quando surge essa polêmica sobre o filme "Tropa de Elite" (baseado no livro "Elite da Tropa"). Ambos tratam do cotidiano e bastidores das instituições policiais do Rio de Janeiro, com um bom destaque para o BOPE - Batalhão de Operações Policiais Especiais, a força de elite da Polícia Militar carioca.

Li o livro e posso assegurar que é excelente e impressionante. Parece difícil se surpreender ainda mais com a Polícia nos dias de hoje, mas com esse livro, lhes garanto, vocês ficarão ainda mais surpresos. A corrupção e o crime dentro dos orgãos policiais são maiores do que podemos supor. Por diversas vezes me peguei lendo com aquela cara de boca aberta. Por ser tão bom, confesso que estava esperando o filme com ansiedade.

Eis que surge a notícia na imprensa que o filme vazou e está sendo vendido nas ruas do Rio e de São Paulo. Em cima desse fato, achei que seria um bom momento para colocar o que penso sobre pirataria. Vocês vão entender o por quê.

Pirataria não está ligada a condição econômica de uma pessoa. O produto pirata não é mais uma exclusividade das classes de baixa renda. As classes média e alta estão com tudo na onda dos piratas. Comecei a ver meus amigos baixando filmes e séries, meus colegas de trabalho comprando filmes em camelô, minha mãe feliz com seus CDs piratas. Gente que não precisa.

Aí descobri que a pirataria tem ligação com pobreza espiritual. Com falta de sensibilidade. Com incapacidade de apreciar as coisas boas da vida. As pessoas que utilizam os piratas não ligam mais para qualidade. Não valorizam ou anseiam por um filme ou disco. Eles não fazem parte do grupo dos apreciadores, dos degustadores. São apenas pessoas que precisam se alimentar e viver. Apreciar é uma coisa muito diferente.

Uma vez, por conta do trabalho, surgiu para mim um jantar espetacular num restaurante 5 estrelas, top de São Paulo. Chefe Internacional, Guia Michelin, 12 pratos de degustação. Resolvi convidar um amigo na esperança de que ele valorizasse o evento. Uma hora antes, ao chegar na casa do indíviduo, deparei-me com ele comendo pão com geléia. Me disse que estava com fome, que não podia esperar. 1 hora antes de comermos uma das melhores refeições de nossas vidas e ele estava se empanturrando de pão com geléia. É disso que estou falando. Dessa pobreza espiritual.

Tenho um outro amigo que baixou o Senhor dos Anéis 3, antes de estrear, e viu no computador em uma tela de 15 polegadas com duas caixinhas de som vagabundas. É disso que estou falando.

Uma colega do trabalho, assistiu o pirata de "Cars", da Pixar, em uma cópia que foi gravada dentro do cinema por uma câmera que filmava a tela. Veio me perguntar se eu não queria emprestado. O que mais posso dizer?

Pirataria tem a ver com desprezo pela vida. Algo como tomar cerveja em copo de plástico. Tipo, dane-se. Me dá isso aí de qualquer jeito.

Quem entende e valoriza uma obra, foge do pirata. Um jantar dos sonhos merece ser aguardado com paciência. Um filme épico pede uma tela de cinema digital com som de última geração. Uma boa cerveja combina com um lindo copo de vidro. Um DVD de primeira merece ser visto por inteiro, com todos os seus extras e novidades. E por aí poderíamos listar muito mais.

É lógico que podemos ter nossos momento de lixão na vida, relaxar e mandar tudo pro inferno. Adoro pão com geléia e já bebi muita cerveja em copo vagabundo. Mas tudo tem o seu momento. Precisamos saber qual evento merece um cuidado especial. Precisamos aprender a apreciar.

Um filme como Tropa de Elite merece ser visto em sua plenitude e não em uma cópia, mal editada, com cenas em ordens inversas, com partes incompletas e com um som não finalizado. É isso que estão vendendo por aí. E é isso que muita gente de classe média e com curso superior vem assistindo.

Um amigo me perguntou hoje, "vc já viu?" E eu respondi: "Não, vou esperar". Com aquele sorriso de quem está esperando o bolo da mamãe ficar pronto. E vou esperar feliz.

Veja o trailer

3 comentários:

Tania Capel disse...

entendo perfeitamente: um amigo falou que sou burguesinha pq só tenho CD's originais, daí eu tentei explicar que como sou artista tenho que valorizar a obra de outro artista... argumento completamente ignorado! daí apelei para a beleza do encarte... e vi na cara dele que ele me achava uma idiota por gastar 20 reias num encarte!

bens, essas são as mesmas pessoas que compram quadros para combinar com o sofá.... onde vamos parar??

abraços

Anônimo disse...

Oi passei pelo seu blog e gostaria de deixar minha opinião sobre seu comentário.Também sou contra a pirataria,mas acho que algumas coisas devem ser analizadas.Uma delas,como vc mesmo descreve,poucos tem acesso a uma tv a cabo,então programas e séries de muita qualidade não podem ser vistas por uma maioria menos favorecida.Então no nosso país,pobre não vê série americana,quase não vê filme pois não tem dinheiro para ir ao cinema,espera tempos para ver um filme na tv aberta e se um dia a globo resolver desenterrar séries como Prison Break(que por sinal é ótima) e exibir Lost fora da madrugada, vão poder assistir.Quem sabe daqui uns anos ,depois de nós né? Em nosso país é negado ao pobre o livre acesso a cultura,e o que a pirataria?Reflexo de tudo isso.È como acontece com a violência com a mal distribuição social.Claro que isso não justifica a pirataria,que é crime,os aproveitadores que pirateiam por prazer.Mas para mim a pirataria não vai ter como combater não.O que vc acha?

RONALDO SANCHES disse...

Acho que vc tem toda razão, concordo totalmente. Mas a minha crítica principal em cima da pirataria é sobre quem tem condições de comprar algo original e não está fazendo. A Pirataria hoje é uma febre na Classe Média e até de Classe A. Isso é o mais impressionante. Sobre o povão, sei que muitas vezes ele não tem outra escolha.